sexta-feira, 25 de abril de 2014

Finalmente, sexta-feira!


Se há uma coisa mais previsível do que um vice-campeonato do Vasco, é o fato de que ninguém poderá acessar as redes sociais numa sexta-feira sem se deparar com uma enxurrada de posts festivos. Isso quando a contagem regressiva não começa já na segunda. Mas já paramos pra pensar sobre quais seriam os motivos de tamanha alegria?
“PORRA, mas que pergunta idiota! Depois da sexta vem o sábado e o domingo, sabia? Sério que o artigo é sobre ISSO?”
Calma, que tudo pode se tornar mais complicado do que parece. Beleza, o que se comemora nas sextas-feiras é a iminência dos finais de semana. Dois dias em que a maioria das pessoas não cumpre expediente, não tem compromissos, enfim, podem fazer o que tiverem vontade. Assim, os vivas à sexta-feira marcam a passagem pela fronteira entre a aborrecida rotina dos dias úteis e a liberdade de um sábado de sol.
Mas, então, o motivo da festa é que temos a possibilidade de dois dias felizes após cada cinco sofríveis?
“Nãoooo, peraí, não são dois a cada cinco... e os feriados, as férias? Também adoramos feriado! Principalmente, se cair numa quinta e der pra enforcar a sexta!”
(Pausa para os cálculos – matemática não costuma ser o forte de escritores. 365 dias – feriados – férias – finais de semana + finais de semana durante as férias que precisam ser compensados = ????)
Tudo bem, contando férias de 30 dias, temos pouco mais de 70% de dias úteis no ano, logo, menos de 30% de finais de semana, feriados e afins. Quer dizer que esse rebuliço todo é pela expectativa de usufruir, quem sabe, de três dias felizes a cada dez? Sinto informar, mas... parece que você está fazendo isso errado!!
Melhor do que ansiar diuturnamente pela chegada de janelas de escape da nossa vida cotidiana seria construir uma vida da qual não quiséssemos escapar tão desesperadamente. Conferir significado a 100% dos nossos dias, e não apenas a 30% deles.
Falar é bem mais fácil do que fazer, não é? Olha a realidade: quase quatro horas só indo e vindo do trabalho, mais oito de expediente. Mais tempo pra dormir, almoçar, jantar, tomar banho... e no pouquinho que sobra, ainda preciso ficar “conferindo significado”?
Bom, quem está numa situação dessas precisa refletir se realmente deseja ficar para sempre preso nesse modelo de “vida”. Se a resposta for sim, nada há a se fazer. Agora, se a resposta seguir um padrão mínimo de lógica e for não, veremos que definir os alvos que precisamos derrubar para escapar dessa idílica existência não é nada difícil.
Afinal, no cenário que exemplificamos, nada menos que 12 horas são consumidas apenas com deslocamento e trabalho. Logo, saltam aos olhos as alternativas. A mais lógica é reduzir o tempo de deslocamento, de trabalho, ou ambos, para viver por mais tempo do que o dedicado a sobreviver. Outra opção seria encontrar propósito no próprio trabalho e nas demais atividades cotidianas, o que é bem diferente de “gostar” de trabalhar. E, caso isso se revele impraticável, modificar as atividades a que nos dedicamos durante os infames cinco dias úteis.
Afirmo, sem qualquer receio, que existem inúmeros caminhos para que reinventemos nossas vidas, e a maioria deles é acessível a qualquer pessoa. Alguns envolvem, claro, um período de privações e sacrifícios antes de nos conduzir a um objetivo. Mas mesmo o que para uns parece sacrifício pode se tornar prazeroso, se as ações são direcionadas para uma meta. Aqueles que escolheram como rota de escape de empregos estafantes e insatisfatórios o estudo, e celebravam a sexta-feira não pela happy-hour, mas pela iminência de 48 horas de paz com seus livros e aulas, com certeza entende bem isso.
O curioso, portanto, é que embora haja muitas pessoas insatisfeitas com a própria vida, e a todas elas esteja disponível a possibilidade de mudança, a maioria não se move. Seguem disputando a corrida dos ratos. No percurso, amaldiçoam alguns, invejam outros, e parecem estar esperando que o mundo se adeque aos seus desejos e necessidades. Não mudam seu comportamento e, claro, jamais esperam conseguir “mudar o mundo”. Esses bravos atletas podem ser muitas coisas, mas jamais serão sonhadores.
Não, eles não sonham. Eis que encontramos as correntes da prisão. O sortilégio pode, de fato, ser quebrado por qualquer um, mas mediante a conjugação de pelo menos dois fatores: visão e coragem. Correndo de um lado pro outro o tempo inteiro, não se pode ver além da linha dos olhos. Encerrada continuamente em escritórios e túneis, a mente se acomoda e se amedronta com a luz do sol.
E, no acender das luzes, encontrar a saída é simples. O primeiro passo é o mesmo que deve ser seguido pelos dependentes químicos: é preciso reconhecer que há um problema. E visualizar uma vida diferente, melhor, se formos fortes o suficiente para lutar contra os vícios e limites que nós próprios nos impusemos. Em seguida, definir objetivos e buscar os meios para alcançá-los. Encarar os sacrifícios necessários, que serão menores do que aqueles que sofrem os que continuam eternamente presos. E, principalmente, ter coragem para mudar.
Não exige prática, tampouco habilidade. Basta abrir os olhos e caminhar sobre as pedras e brasas, rumo ao desconhecido. Boa viagem, e espero encontrar cada vez mais gente por lá.



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