Se há uma coisa mais
previsível do que um vice-campeonato do Vasco, é o fato de que ninguém poderá
acessar as redes sociais numa sexta-feira sem se deparar com uma enxurrada de posts festivos. Isso quando a contagem
regressiva não começa já na segunda. Mas já paramos pra pensar sobre quais
seriam os motivos de tamanha alegria?
“PORRA, mas que
pergunta idiota! Depois da sexta vem o sábado e o domingo, sabia? Sério que o
artigo é sobre ISSO?”
Calma, que tudo pode
se tornar mais complicado do que parece. Beleza, o que se comemora nas
sextas-feiras é a iminência dos finais de semana. Dois dias em que a maioria
das pessoas não cumpre expediente, não tem compromissos, enfim, podem fazer o
que tiverem vontade. Assim, os vivas à sexta-feira marcam a passagem pela
fronteira entre a aborrecida rotina dos dias úteis e a liberdade de um sábado
de sol.
Mas, então, o motivo
da festa é que temos a possibilidade de dois dias felizes após cada cinco
sofríveis?
“Nãoooo, peraí, não
são dois a cada cinco... e os feriados, as férias? Também adoramos feriado!
Principalmente, se cair numa quinta e der pra enforcar a sexta!”
(Pausa para os
cálculos – matemática não costuma ser o forte de escritores. 365 dias –
feriados – férias – finais de semana + finais de semana durante as férias que
precisam ser compensados = ????)
Tudo bem, contando
férias de 30 dias, temos pouco mais de 70% de dias úteis no ano, logo, menos de
30% de finais de semana, feriados e afins. Quer dizer que esse rebuliço todo é
pela expectativa de usufruir, quem sabe, de três dias felizes a cada dez? Sinto
informar, mas... parece que você está fazendo isso errado!!
Melhor do que ansiar
diuturnamente pela chegada de janelas de escape da nossa vida cotidiana seria
construir uma vida da qual não quiséssemos escapar tão desesperadamente.
Conferir significado a 100% dos nossos dias, e não apenas a 30% deles.
Falar é bem mais
fácil do que fazer, não é? Olha a realidade: quase quatro horas só indo e vindo
do trabalho, mais oito de expediente. Mais tempo pra dormir, almoçar, jantar,
tomar banho... e no pouquinho que sobra, ainda preciso ficar “conferindo
significado”?
Bom, quem está numa
situação dessas precisa refletir se realmente deseja ficar para sempre preso
nesse modelo de “vida”. Se a resposta for sim, nada há a se fazer. Agora, se a
resposta seguir um padrão mínimo de lógica e for não, veremos que definir os alvos que precisamos derrubar para
escapar dessa idílica existência não é nada difícil.
Afinal, no cenário
que exemplificamos, nada menos que 12 horas são consumidas apenas com
deslocamento e trabalho. Logo, saltam aos olhos as alternativas. A mais lógica
é reduzir o tempo de deslocamento, de trabalho, ou ambos, para viver por mais
tempo do que o dedicado a sobreviver. Outra opção seria encontrar propósito no próprio trabalho e nas demais atividades cotidianas, o que é
bem diferente de “gostar” de trabalhar. E, caso isso se revele impraticável, modificar
as atividades a que nos dedicamos durante os infames cinco dias úteis.
Afirmo, sem qualquer
receio, que existem inúmeros caminhos para que reinventemos nossas vidas, e a
maioria deles é acessível a qualquer pessoa. Alguns envolvem, claro, um período
de privações e sacrifícios antes de nos conduzir a um objetivo. Mas mesmo o que
para uns parece sacrifício pode se tornar prazeroso, se as ações são
direcionadas para uma meta. Aqueles que escolheram como rota de escape de
empregos estafantes e insatisfatórios o estudo, e celebravam a sexta-feira não
pela happy-hour, mas pela iminência
de 48 horas de paz com seus livros e aulas, com certeza entende bem isso.
O curioso, portanto,
é que embora haja muitas pessoas insatisfeitas com a própria vida, e a todas
elas esteja disponível a possibilidade de mudança, a maioria não se move.
Seguem disputando a corrida dos ratos. No percurso, amaldiçoam alguns, invejam
outros, e parecem estar esperando que o mundo se adeque aos seus desejos e
necessidades. Não mudam seu comportamento e, claro, jamais esperam conseguir
“mudar o mundo”. Esses bravos atletas podem ser muitas coisas, mas jamais serão
sonhadores.
Não, eles não sonham. Eis
que encontramos as correntes da prisão. O sortilégio pode, de fato, ser quebrado por
qualquer um, mas mediante a conjugação de pelo menos dois fatores: visão e coragem. Correndo de um lado pro outro o tempo inteiro, não se pode
ver além da linha dos olhos. Encerrada continuamente em escritórios e túneis, a
mente se acomoda e se amedronta com a luz do sol.
E, no acender das
luzes, encontrar a saída é simples. O primeiro passo é o mesmo que deve ser
seguido pelos dependentes químicos: é preciso reconhecer que há um problema. E
visualizar uma vida diferente, melhor, se formos fortes o suficiente para lutar
contra os vícios e limites que nós próprios nos impusemos. Em seguida, definir
objetivos e buscar os meios para alcançá-los. Encarar os sacrifícios
necessários, que serão menores do que aqueles que sofrem os que continuam
eternamente presos. E, principalmente, ter coragem para mudar.
Não exige prática,
tampouco habilidade. Basta abrir os olhos e caminhar sobre as pedras e brasas,
rumo ao desconhecido. Boa viagem, e espero encontrar cada vez mais gente por
lá.
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